Para além de todas as outras, tenho uma estranha mania de fazer balanços na minha vida. Agarrar naquilo que fiz e fazer a ponderação entre aquilo que queria ter feito. Pesar as experiências, aprender com as más, aproveitar as boas, mudar de sítio aquilo que não está bem onde eu queria que estivesse, limpar o pó ao que quero manter no sítio e deitar fora algumas coisas que já não vale a pena manter. É um bocado como as limpezas de Primavera em que se vira o colchão ao contrário e a roupa de Inverno vai para o baú de onde saem agora as de Verão.
Não faço resoluções de ano novo e geralmente não faço dessa passagem um marco para arrumar a cabeça, mas esta é melhor altura porque passaram-se 6 meses desde que acabei o PhD, 6 meses que estou a viver nos EUA e 6 meses desde que comecei um novo trabalho como postdoc. É meio ano, meio ciclo, tempo de fazer balanços, pesar o bom, o mau e perceber se vale a pena continuar o caminho por aqui ou se é melhor mudar o precurso.
Nestes 6 meses aprendi mais que num par de anos em Portugal. Não foi só profissionalmente que cresci, mas também enquanto pessoa e, principalmente, na forma como vejo os outros e a mim mesma. Sairmos da nossa zona de conforto, deixarmos para trás aqueles que sabemos que estão sempre por baixo da corda-bamba a segurar a rede que nos ampara e passarmos a contar essencialmente connosco próprios, ao início assusta. Avançamos devarinho porque ainda nos estamos a habituar a termos que nos equilibrar sozinhos, mas depois de percebermos que somos capazes a sensação de segurança em nós próprios acaba por nos permitir ir por caminhos que há uns meses nem sonhávamos ser capaz de percorrer.
Nestes 6 meses conheci pessoas novas, diferentes, sítios novos, estilos de vida que só achavamos existir na televisão. Dei passos maiores que as pernas, caí e levantei-me. Senti, pela primeira vez, a nível profissional, que faço falta, que o meu trabalho não só é valorizado como essencial. Propuseram-me novos desafios, aceitei, tive medo...ainda tenho medo...fizeram-me sentir valorizada, deram-me parabéns, votos de confiança.
Já tive vontade de fugir daqui, já tive dias muito maus...já tive dias em que me bastou haver sol para ser mais feliz. Já tive dias em que senti que o chão me fugia e pensei desistir. Já achei que nada disto valia estar longe dos que amo, já achei que isto era A experiência, já achei que não queria estar em mais lado nenhum que não aqui. Aprendi a conhecer-me muito melhor, aprendi a conhecer os outros. Percebi quem está lá nos dias em que o chão me foge para me ajudar a reequilibrar. Conheci melhor aqueles que achei que já conhecia de gingeira. Tive dias tão de merda em que não consegui sair de casa e nesses dias, sem que tivesse que dizer nada, tive quem me esticasse a mão. Aprendi que estar longe faz-nos ver melhor quem queremos por perto. Percebi que por mais laços que se estabeleçam e por mais pessoas que se conheça é importante que nos vão lembrando que os laços antigos continuam intactos. Conheci o que é ter medo à séria. Passei por um furacão e uma winter storm com direito a blizzard. Já adormeci a chorar com saudades. Já acordei a chorar com saudades. Viciei-me em chocolates com manteiga de amendoim e mesmo assim emagreci 5kg. Passei a caminhar uma média de 1h30 por dia e gosto. Aprendi a racionalizar...as emoções e as saudades. Aprendi que as saudades que tenho dos meus sobrinhos são impossíveis de racionalizar, são saudades que doem e me deixam sem fôlego.
Foram 6 meses que me ensinaram mais que muitos 6 anos e depois de altos e baixos percebo que valeram muito a pena. O balanço? Positivo...venham mais 6!! :-)